Essa tabela não tem qualquer relevância prática exceto mostrar quantas e que tipo de medalha cada país ganhou, mas serve como gancho para pensarmos sobre sistemas eleitorais (toda vez que você vota em alguém, você está dando uma medalha a seu candidato).
Estamos acostumados a pensar em eleições no sistema majoritário simples, no qual você vota no seu candidato favorito. Ou seja, você só distribui medalha de ouro e ganha quem tiver o maior número de medalhas de ouro.
O problema com esse sistema é que é eleito o mais consistente em relação aos demais, e não a ideia mais consistente. Imagine que o candidato Ouro receba 20% dos votos e haja outros 5 candidatos, cada um com 16% dos votos, todos esses 5 com propostas muito próximas entre si e muito diferentes da plataforma do candidato Ouro. Ou seja, os eleitores, de forma geral, preferem candidatos com uma plataforma diferente da vencedora, mas como tínhamos várias opções parecidas, venceu o candidato com a plataforma que apenas uma minoria (20%) desejava. Ele venceu porque 80% da população não queria que ele vencesse, mas diluiu seu poder de voto entre diversos candidatos parecidos.
É por isso que se criou, nas grandes cidades brasileiras, o segundo turno. Nele, se um candidato não consegue mais da metade dos votos no primeiro turno, os dois primeiros colocados (Ouro e Prata) vão para o segundo turno e os eleitores têm a chance de decidirem entre os dois.
Mas há outros sistemas interessantes. A escolha do prefeito de Londres, cidade sede das olimpíadas, por exemplo acontece com o sistema de voto suplementar. Nele, os eleitores recebem uma única cédula na qual marcam seus dois candidatos preferidos, em ordem de preferência.
Primeiro apura-se se alguém recebeu mais da metade dos votos como primeira preferência. Se sim, problema resolvido e eleição terminada. Contudo, se não houver um vencedor, eliminam-se todos os demais candidato, mantendo-se apenas os dois primeiros colocados. Quem votou em um desses dois primeiros colocados como seu candidato preferencial não tem seus votos contados novamente (ou seja, se candidato Ouro recebeu 100 votos e o Prata recebeu 80 votos como primeira opção, eles carregam esses 100 e 80 votos consigo e não se olha quem era a segunda opção dos eleitores que os escolheram como preferenciais).
Somam-se a esses votos os votos dados às segundas opções dentre os candidatos eliminados (ou seja, o candidato Bronze foi eliminado, mas em muitas das cédulas nas quais ele apareceu como primeira opção, os candidatos Ouro e Prata apareceram como segunda opção: esses votos agora são contados a favor daqueles dois candidatos).
Digamos que entre os eleitores que votaram Bronze como primeira opção, 30 tenham votado no candidato Ouro como segunda opção, 50 no candidato Prata e 20 no candidato Alumínio. Os 20 votos para Alumínio como segunda opção (que, como o Bronze, não estava entre os dois preferidos) são descartados. Os votos para o Ouro são somados (100 nas cédulas em que ele foi a primeira opção mais os 30 nas cédulas nas quais ele apareceu como segunda opção), e o mesmo acontece com o candidato Prata (80 + 50). Vencerá quem conseguir o maior número de votos. No caso acima, o candidato Prata, que ficou com 130 votos.
Há duas diferenças importantes entre o sistema de voto suplementar e o nosso segundo turno: primeiro, como há uma única votação, os custos são muito menores. Segundo, no sistema de segundo turno, há uma tendência de os eleitores votarem estrategicamente: eu voto não em quem eu realmente quero, mas em quem tem melhores chances de chegar ao segundo turno. E, no segundo turno, escolho o menor entre dois males. Já no voto suplementar, a tendência é que os eleitores votem em quem realmente preferem.
A desvantagem do sistema suplementar é que, como o voto na primeira e na segunda opções acontecem ao mesmo tempo, os eleitores não sabem quem serão os dois escolhidos como primeira opção. Por isso é maior a possibilidade de desperdiçarem o voto. Por exemplo, nas últimas eleições para prefeito de Londres (Maio/12), dos apenas 346 mil eleitores que escolheram como primeira opção um candidato que não era um dos dois primeiros colocados, 171 mil (quase a metade) escolheram como segunda opção um candidato que não estava entre os dois mais votados como primeira opção, ou seja, desperdiçaram ambos os votos.
Um outro sistema eleitoral interessante é o chamado voto alternativo, no qual os eleitores ranqueiam todos os candidatos em ordem de preferência. Se nenhum obtiver mais da metade dos votos como primeira opção, eliminam-se os votos no qual o último candidato apareceu como primeiro colocado e se redistribui seus votos (por exemplo, se Ouro apareceu como segundo colocado em 20 cédulas nas quais o candidato eliminado aparecia como primeira opção, Ouro receberá esses 20 votos). Novamente se ninguém obtiver a maioria, elimina-se o agora último (antes penúltimo) colocado e se redistribui seus votos, e assim sucessivamente até que alguém obtenha a maioria.
A diferença desse sistema é que, ao contrário do suplementar, eliminam-se apenas os mais fracos a cada rodada. Assim, um candidato que gera polarização é menos provável de ser eleito do que um candidato que, embora não seja o preferido de ninguém, seja a segunda ou terceira opção de todo mundo (os chamados candidatos de consenso).